Wednesday, June 29, 2005

Entender para ser entendida


Hoje tem sido um daqueles dias em que sem razao de ser tudo parece estar fora do lugar. Os acontecimentos ate entao, rotineiros. Acordar as 6:00 da manha, trem, trabalho. Agora, almoco so’, e isso e’ estranho. Meu amor e companheiro diario no almoco (trabalhamos no mesmo edificio) ficou em casa. A comida indiana estava otima, mas o espelho enorme ao meu lado me faz sentir culpada por ter repetido o prato. Uma amiga minha tinha-me dito ontem que poderiamos almocar juntas hoje; nem ligou, nem respondeu meus telefonemas. Queria ser menos “seria”, como ela gosta de me chamar, e apenas sorrir quando ela me contar as mil e uma coisas que surgiram e a impediram de vir (ou ligar avisando). Daqui a algumas horas sei que conseguirei. Continuo aperfeicoando minha pratica de entender o comportamento humano atraves da personalidade de cada um e nao segundo a forma pela qual eu agiria diante da mesma situacao... Parece uma regra simples, mas a pratica as vezes demonstra que nao e’ tao facil assim… Confesso que acho sempre uma tarefa dificil e que me consome: exigir de mim mesma constante consideracao para com os amigos e empregar a mentalidade “o que vier e’ lucro” em relacao aos outros…

Na realidade, eu viveria “melhor” se conseguisse ter uma atitude mais egoista a maioria do tempo: eu aumentaria tremendamente minhas horas de leitura, dedicacao a arquitetura e planos pessoais, etc. A verdade e’ que tudo me consome, e enquanto eu nao fizer o que prometi a alguem, responder aquele e-mail, mandar a foto que prometi, etc, eu nao sossego. Por exemplo, recebi um questionario do namorado de uma amiga p/ responder desde a semana passada e ate agora nao parei p/ fazer. Enquanto eu nao arranjar esse tempo, estarei me consumindo por dentro. Esta la’ escrito; minha To Do lista da semana nao me deixa esquecer. O problema e’ que minha lista nao para de crescer… Nao fosse pela minha tese tudo seria diferente…

Tenho uma amiga muito querida e ex-roommate em Cambridge, vindo do Brasil passar 10 dias em Boston a partir de amanha. Fiquei muito feliz com a noticias mas confesso que ja estou me consumindo sem saber como vou arranjar tempo para ve-la o maximo de vezes possiveis e ainda me preparar para minha proxima apresentacao da banca em duas semana… Tenho certeza que ela iria compreender minhas restricoes de tempo, sou eu que fico dividida porque queria estar mais disponivel… Enfim la vou eu me cobrando novamente… Parece ate inofensivo, mas desde que eu nao cobre dos outros tambem.

Nao fosse minha tese eu seria uma pessoa mais leve… Nao fosse pela minha tese eu nao poderia ter o entendimento tao profundo do quanto e’ importante eu me dedicar a meus projetos pessoais antes de ser meu melhor para com os outros: marido, familia e amigos. Tenho aprendido que eu tambem sou parte da mentalidade “o que vier e’ lucro” que os outros percebem de mim. So espero poder oferecer meu melhor dentro das minhas limitacoes de tempo: entender para ser entendida.

Nao e’ quantidade e sim qualidade a regra maxima da vida.

Sunday, June 26, 2005

As coisas de fora e as de dentro

Antes de escrever me vem aquela sensacao de que tenho duas opcoes: uma de falar de coisas que estao dentro de mim, outra de coisas qeu estao fora de mim. As coisas de fora, posso racionalizar, ser imparcial ou meramente descritiva. Eu poderia ser como a maioria dos blogs masculinos falando de politica, de musica, de cinema, ou de qualquer outro assunto que eu nao exponha meus sentimentos pessoais. As coisas de dentro tem um tom mais intimo, uma cor para cada expressao, um mergulho no meu ser. Ai eu poderia manter a linha dos blogs femininos, da escrita do desabafo, da exposicao de sentimentos e da busca de uma conenecao intima com o leitor. A verdade e’ que eu me sinto numa posicao engracada antes de escrever. Se sou pega em um dia introspectivo, meu texto refletira o momento. Caso contario, busco esse dialogo entre as coisas de fora e as de dentro; me questiono como algo extraido do cotidiano interfere no que sinto agora, ate extrair razao da emocao.

A verdade e’ que quando leio ou assisto noticias de acontecimentos mundiais, algo em mim me faz resistir vir aqui e falar na primeira pessoa. E’ como se contar como foi a ultima apresentacao da minha tese, da surpresa de um aumento de salario, ou do jantar na casa de amigos, nada disso pudesse ser mais importante do que o que meus olhos me informaram na tv e nos jornais. Nos ultimos dias assisti especiais na tv sobre as condicoes de trabalho em Bangladesh, do numero dos deficientes fisicos militares causados pela Guerra do Iraque, sobre os orfaos do Sunami 6 meses apos o desastre, ou mesmo os republicanos fazendo de conta que as condicoes sanitarias de Guantanamo Bay podem esconder as sujeiras que acontecem na ausencia de fiscais. Esses sao apenas pequenos exemplos do que coisas que estao fora de mim, algo que eu poderia agir como reporter e fazer uma abordagem descritiva dos acontecimentos. Contudo, nao sou reporter e meu interesse e’ investigar como as coisas de fora me abalam por dentro. Nao sei em que ponto eu nego o estereotipo feminino de minha forma de escrever…

Falo tudo isso e reflito. Porque me sentir culpada em falar de mim ja que as noticias mundias sempre vao trazer acontecimentos maiores que quaisquer um que aconteca em minha vida? Assim eu teria que me calar para sempre… Perai, em todas as estorias dos noticiarios mundias me foram contadas atraves de uma vida. As reportagens de Bangladesh foi baseada numa unica garota, e atraves dela sentimos a dificuldade de viver trabalhando sem parar 10 horas por dia, ganhando 20 centavos por hora, dormindo num quartinho com 4 pessoas e cozinhando no chao. A mesma coisa em relacao a estoria da orfa do Sunami, do soldado que perdeu a perna na Guerra ou do preso em Guantanamo. A verdade e’ que o todo e’ compreendido atraves de estorias individuais, e ai que existe a coneccao um-a-um com o que esta sendo dito.

Ter lido alguns comentarios no blog de pessoas me dizendo que minhas estorias tem sido incentivadoras para elas tambem correrem atras de seus objetivos e’ realmente muito gratificante. Na realidade e’ bem alem do que eu esperava ter como feedback. Eu achava que ia ser bem mais solitario escrever aqui. Que bom! Dessa forma a vida demonstra-se com um sentido maior, porque de uma forma estranha estamos todos conectados nessa constante troca de umas estorias pessoais inspirando outras e elas entre si.

E’ nessa sinergia que encontro o dialogo entre as coisas de fora com as coisas de dentro… Cada estoria humana conta.

Saturday, June 18, 2005

Visitinha rapida...


Commonwealth Avenue- Boston

Vim por aqui antes que meu blog comece a criar teias… E’ que eu me dei “ferias” final de semana passado para mostrar a cidade de Boston a meu tio/padrinho que esteve me visitando. E’ otimo me sentir turista novamente e notar que as primeiras impressoes prazerosas que senti dessa cidade ainda existem. Ainda me dei ao luxo de ir a um churrasco de comemoracao de termino de mestrado de uma amiga: um grupo pequeno mas de interessante mistura de paises representados (Portugal, Alemanha, EUA, Grecia, Franca, Argentina, Brasil, Suica e sei la mais onde). Depois tive que fechar a boca para perder as calorias ingeridas a mais como resultado de minha total despreocupacao do ultimo fim de semana... Parece que toda alegria e' seguida de um sacrificio e virse-versa...

Usei ferias entre aspas la em cima por causa da relatividade da palavra: me referia apenas a minha tese e nao ao escritorio. Agora esta sendo o contrario, minha proxima apresentacao da tese vai ser terca, entao eu estou tirando ferias do mundo e do trabalho ate la… Fiquem torcendo por mim ai!
Deixo uma foto de Boston como lembranca de um momento meu como turista novamente.

Sunday, June 12, 2005

Palavras "grandes"

Estava escrevendo esse texto sexta quando fui interrompida com a ligacao de uma amiga chorando para contar que a tia tao querida tinha falecido naquela madrugada... Eu fiquei muda na hora. Coincidentemente o que eu escrevia era relacionado a morte. Muitas coisas aconteceram entre sexta pela manha e agora, meio-dia no domingo. Como os acontecimento que seguiram foram bem mais leves, so agora decidi postar o texto ai abaixo:
Hoje uma pessoa sentada ao meu lado no trem me chamou a atencao: ele lia cuidadosamente a secao obituario do jornal. Talvez conhecesse alguem, talvez por curiosidade. Nao precisou muito para me fazer refletir. Ser lembrada da morte assim, numa situacao tao cotidiana, me deu uma sensacao de vulnerabilidade inconfortavel. Afinal, muitos das pessoas naquela pagina de jornal provavelmente foram “pegos” de surpresa…

Eu sempre tive fascinacao por palavras com um significado tao intenso que supera infinitamente outras palavras. Morte e’ uma dessas palavras cujo interpretacao profunda e complexa diminui a importancia de outras palavras quando a confrontamos. Problemas e morte, preocupacoes e morte, estresse e morte, etc; todas as palavras viram nada frente a presenca do significado da palavra da morte. Mas ai me deu vontade de pensar em outra palavra para gladiar com a palavra “morte”… Hum. Vida? Muito obvio… Prefiro “humanidade”. Duas palavras de significados distintos e de natureza complexa: uma nega tudo relacionado a vida, outra que engloba tudo relacionado a vida humana. A humanidade “vence” a morte quando deixa rastros de vida que podem ser contados de alguma forma. A vida contem a morte que e’ vencida pela humanidade que contem todas as vidas. Entao quanto maior minha coneccao com a humanidade, maior minha falsa sensacao de vencibilidade perante a morte. Quanto mais eu deixar meus “rastros”, mas vai parecer que minha existencia nao foi assim tao inutil para humanidade…

Quando assisto na tv pessoas dedicadas a grandes causa humanitarias, parte de mim quer largar tudo e ir ajudar. Nada de se espantar vindo de uma pessoa que derrama lagrimas assistindo cenas tristes e tragedias no noticiario… A sensacao de ser parte de um contexto maior e’ constante em mim. Sei que me falta poder politico, fama ou qualquer outro requisito que expanda minha influencia sobre uma fracao maior da humanidade. Minha forma de me conectar com a humanidade tem sido ainda silenciosa. Ha tempos percebi que e' atraves de valores universais que posso vivenciar uma real connecao, isto e’, atraves das tais palavras "grandes" mais uma vez: Amor, Etica, Coragem, Igualdade, Fe, Justica, Perserveranca, Bondade… Palavras inspiradoras e que ajudaram a tantas vidas descobrirem suas formas particulares de superar a morte, cada qual tendo as vezes apenas uma dessas palavras a frente de todas as outras. Quanto mais o sentido dessas palavras cresce em mim- o que me une a todos na humanidade-, mais aspectos particulares da minha existencia diminuem em importancia. As vezes percebo que nao e’ sempre que consigo espantar a sombra do egoismo, mas deixar valores maiores guiar minha acoes me traz uma sensacao de prazer quase fisica. Da mesma forma, admiro figuras publicas que conseguem desviar a atencao de suas proprias vidas para a causa que estao engajadas. Digo isso tendo em mente que cada profissao tem uma causa nobre a cumprir; a visao do bem coletivo em cada um e’ que faz determinada funcao superar atos mecanicos e torna-los mais humanos.

Gosto de acreditar que arquitetura sera minha contribuicao para humanidade. Ainda nao sei em que escala e quantas pessoas poderei beneficiar, mas nos meus sonhos o ceu e’ o limite… Talvez arquitetura seja parte dos meus “rastros” apos minha morte. Com sorte terei tempo suficiente antes de ser “pega” de surpresa… Ate la, so' me resta esperar pelas oportunidades. Vou me preparando como posso, cativando tudo de mais belo que as palavras “grandes” contem. Enquanto nao chega a minha forma de beneficiar a humanidade, eu vou me beneficiando do todos os aprendizados que posso absorver dela.

Ser lembrada da morte me faz lembrar da vida…

Sunday, June 05, 2005

Depois do Poquer, o Silencio...

Hoje e’ domingo e o calor que esta fazendo me deixa agoniada. Digo isso e’ logo me sinto mal por reclamar do calor. Ne nada disso nao, ta oootimo. Para quem aguentou o ultimo inverno de Boston (um dos 4 piores da historia), e’ ate um pecado abrir a boca p/ reclamar de calor… Hoje eu quero ficar absolutamente so, sem tv, sem gente, sem barulho, sem contato com o mundo. Eu tenho dessas, depois de momentos de agitacao, cativo o silencio. O mais lucido imaculado santo silencio. Tanto que so escuto meus pensamentos, e agora o barulho das teclas. O momento presente e’ bom. Eu como minha melhor companhia...

Engracado que so agora me veio a mente o filme que assisti sexta a noite: Cinderella Man. Pensamento incubado que vem a tona inesperadamente. What a movie!... What a powerful message… Acreditar, acreditar, acreditar sempre, sejam la quais adversidades a vida traga. Uma estoria que pode ser de qualquer homem ou mulher em sua luta diaria em circunstancias diferentes; acredito que essa percepcao e’ que faz o filme despertar sentimentos comuns. Lutas e razoes para se lutar. Ao final de filme, aquele gostinho de esperanca adocando minha boca de que ha recompensa para aqueles que correm atras de seus sonhos. Quem sabe um dia…

No meus momentos de silencio e’ que eu reafirmo meus desejos mais intimos. Porque jogar poquer e se divertir com os amigos e’ gostoso, mas a vida pede mais. Como eu nao acredito em sonhos sem acao, quando me dedico a minha paixao por arquitetura e’ que encontro maior satisfacao interior. Quando eu era adolescente e tinha preguica de praticar tocar meu violino, meu pai me repetia sempre que a preguica era por falta de paixao. Levei anos para entender o que ele realmente queria dizer… Hoje e’ transparente como agua. Sei que sem paixao nao existem estorias de Cinderela, porque nao existe a forca necessaria para nos fazer acreditar no que parece impossivel, ou em nosso poder de tranformacao. Acreditar, acreditar, acreditar sempre… e agir com paixao!

O silencio me revela coisas tremendas…

Poquer Night


Poquer Night

Uma das tradicoes que iniciamos ha alguns meses atras sao as animadas noites de poquer com os amigos que trabalham no escritorio do meu marido. Ontem foi aqui em casa. Ate entao eu era a unica mulher do grupo, mas essa lei foi quebrada ontem e mais duas vieram. Eu ate achava que ia dar para estudar durante o dia e receber o pessoal a noite, mas nao teve jeito de minha cabeca se concentrar em nada serio… Preferi falar com amigas ao telefone. Alem disso, meu lado perfecionista quis ter certeza que a casa estaria impecavel, a cerveja gelada, e os tira-gostos suficientes ate as pizzas chegarem. A noite foi muito divertida; o numero de componentes superou os encontros anteriores, e novos participantes se associaram. Final da noite: rostos mais alegres nos que sairam com mais que entraram, e nem tanto nos que terminaram no vermelho. Faz parte do jogo.