Dia cinzento, pensamentos cinzentos... Morar aqui ha tanto tempo me faz perceber o quanto o clima pode influenciar meu comportamento. Mesmo em meio da primavera, a semana vai ser toda de chuva. Um dia assim ja me decreta que, seja la o que aconteca hoje, minha mente involutariamente ira dramatizar…
Hoje eu tive vontade de usar aqueles brincos que… Ops, lembrei… Nao existem mais… Foi-se na ocasiao de minha ultima ida ao Brasil. Alem de tudo que coincidentemente sempre da’ errado durante as minhas viagens ao Brasil, acrescentei mais uma lembranca traumatica na minha ultima ida em dezembro… Apos eu e meu marido descobrirmos que o voo estaria atrasado indefinidamente, passamos horas tentando montar um novo roteiro. Apos 6 horas de espera nos colocaram em um voo p/ Nova York. Eu tentava cochilar nas desconfortaveis cadeiras do aeroporto, pois tinha passado 3 dias seguidos sem dormir terminando de preparar o livro com a proposta da minha tese… Um casal amigo me fez o enorme favor de ir entregar a proposta para mim naquela manha antes de nos deixar no aeroporto. A segunda opcao de voo tambem atrasou; perdemos a connecao saindo de Nova York. Resultado: tivemos que dormir la e perdemos a noite de Natal com toda a familia reunida… Nao bastasse isso, no voo saindo de SP, ja entrando na aeronave da VARIG (eu tenho que registrar aqui), a aeromoca nao me permitiu entrar com minha mala de mao. Fiz cara feia e argumentei, ja que vi outras pessoas entrando com as suas. Como nao gosto de confusao, quando nao convenci, acabei cedendo. Esqueci totalmente um detalhe importante: a caixa com minhas joias e todos os meus brincos estava na mala de mao, ja que minha bolsa ja estava aborrotada de apetrechos e coisas p/ ler na viagem. Erro que nunca vou esquecer. Depois de mais espera em Sao Paulo e em Recife, ainda tivemos que ir de carro ate JP. Enfim… Quase 60 horas depois, chegamos a casa de meus pais… Muitos beijos e abracos para matar a saudade depois, chegou a hora de dessarrumar a mala... Foi ai que notei a falta da caixa… Naqueles dias que estive perto da minha familia e meus amigos aquele fato nao me incomodou. Engracado como so’ hoje, por causa de um repentino desejo de usar algo que me pertencia, tantas lembrancas vieram a tona...
Nunca tinha sido roubada antes. Sensacao desagradavel. Pior, roubo que nao posso comprovar. Preencher formularios ou ligar p/ reclamar nao mudou nada e ainda tive que escutar que objetos de valor tem que estar sempre com a pessoa. Well, I know that! Por isso que o nome e’ "mala de mao"! A ideia era te-la comigo o tempo todo… Enfim, e’ horrivel a impotencia. Nao tanto pelos objetos que senti falta… As memorias que continham e’ que parecem terem sido roubadas; a maioria das pecas me foram dadas por minha mae em ocasioes especiais: meus 15 anos, o anel de formatura, brincos de perolas que ela tinha desde antes de eu nascer… Nenhum outro item naquela mala poderia me provocar qualquer emocao como aquelas pecas… O restante seriam apenas perdas materiais.
O vento forte fazia com a chuva se espalhasse e o guarda-chuva insistisse em abrir em direcao oposta ate quebrar. Relembrar tal acontecimento essa manha mexeu comigo. No instante seguinte estou eu tentando extrair algo de positivo. Um perfeito exercicio de selecao da memoria: guardar apenas o que realmente importa. Ter orgulho de nao permitir me apegar a coisas. Quando cheguei aqui em Boston pela primeira vez, so trouxe uma mala. Tudo que eu ia precisar coube ali. A felicidade e’ assim tambem, precisa de muito nao…
Por uns instante, baixei o guarda-chuva e deixe sentir a chuva fina no meu rosto… Me senti piegas, mas nem liguei...