Percepcoes Sensoriais no Caminho

Cenas do caminho

Caminhar me aproxima do que acontece a minha volta. A cidade muda completamente de percepcao se experimentada a pe ou de carro. A velocidade do carro me faz perder momentos unicos e cenas picturescas que so a interacao do corpo e ambiente construido permite. Eis um segredo meu que poucas pessoas sabem em relacao a minha paixao por Boston: ela e’ uma cidade prazerosa de se caminhar. Lembro que em meus primeiros meses aqui eu adorava sair das estacoes de trem, perceber que estava perdida e comecar a explorar os arredores. Guardo varias memorias das primeiras impressoes de lugares visitados dessa forma: aliadas ao elemento surpresa.

Meu projeto tem um forte elemento conceitual incorporado ao design: a ideia de passagens. Passagens nos preparam para o que vira’. O corpo e a mente passam por estimulos visuals e sensoriais durante o movimento corporal que definem a experiencia que a pessoa tera. Tenho explorado esse aspecto incansavelmente. Cada passagem de uma area para outra no meu projeto e’ tratada diferenciadamente: uma pela presenca do jogo de luz e sombras, outra atraves da presenca de uma area verde adjacente que vem e invade parte do trajeto, e uma outra que sai de um ambiente publico, amplo e exposto, para mergulhar em um mais intimo e introspectivo. Tenho interesse em investigar as sensacoes corporais que definem as intencoes do projeto antes mesmo dele tomar forma. Fazer perceber as experiencias corporais durante a experiencia da arquitetura tem sido para mim mais desejada que o resultado visual, e limitado a agradar apenas os olhos, do projeto. Proponho uma arquitetura que envolve todos os sentidos durante a experiencia dos espacos.

Tornei-me cobaia do conceito que adotei para minha tese: a contestacao do pensamento dualistico que separa corpo e mente. Alem de passar a visitar spas e fazer meditacao, tambem comecei a investigar minhas proprias respostas a estimulos externos. Essa semana descobri um caminho mais curto da estacao do trem ao escritorio: uma area verde que fica atras das casas conjugadas de tijolos tipicas de Boston mostradas num das fotos anteriores. A descoberta me permite a escolha entre dois ambientes bem distintos: um entre carros e edificios (barulho, velocidade, movimento de pessoas na calcada) e outro atraves uma area verde agradavel e de uma tranquilidade visual relaxante. Registrei o caminho com minha maquina. Alias, mesmo ainda nao dominando a tecnica da fotografia, esse e' o meu mais novo interesse; mais um projeto a ser desengavetado ano que vem. Quando caminho, mais facil perceber as pequenas belezas que acontecem a todo momento ao meu redor. Acredito que todo fotografo gosta de caminhar. Porque nao os arquitetos, entao?

As folhas no chao anunciam o final do outono. De carro eu nao teria percebido o tempo sendo registrado de forma tao ativa. Caminhar e’ adicionar camadas de memorias a experiencia de lugares. Caminhar e’ fazer meu corpo perceber o tempo se manifestando na luz e nas cores diferentes de cada hora do dia e de cada estacao.