Sunday, August 21, 2005

Entre Ontem e Hoje

Acordar cedo aos domingo so quando estou com peso na consciencia. Pulei da cama as 7:15 essa manha. Ontem fui com meu marido a um aniversario de 2 anos do filho do melhor amigo dele. Resultado: mais um dia de estudo perdido. Hoje a internet vem me distraindo. Sei que quando comeco o dia lendo blogs, horas se passam sem eu perceber. Eu nao venho me reconhecendo tao bem ultimamente. Porque ando me distraindo tanto SABENDO que estou com os dias contados para entregar a final de minha tese?… O fato e’ que minha orientadora, que ja tem mestrado pela Harvard, ganhou uma bolsa para fazer PhD na UCLA, California, e viajou ha 2 semanas. Eu fiquei orfa. Pior, nao terei mais nossos encontros as segundas, onde eu TINHA que mostrar o que eu havia produzido naquela semana. Muita liberdade vem tirando a disciplina de estudo que eu tinha me adaptado.

O que mais tenho orgulho na minha vida e’ de que nao me sinto acidente do acaso. Existem coisas na vida que temos controle direto (tudo aquilo que envolve nosso comportamento e escolhas), indireto (quando os acontecimentos envolvem outras pessoas) ou coisas que nao temos controle algum (problemas de uma realidade que foge ao nosso controle). Eu adoro me sentir responsavel pela minha vida. Nao sou de culpar nem A, nem B, nem C pelas situacoes de minha vida. Quem me conhece sabe que eu tambem nao sou de me lamentar: tenho consciencia de que minhas escolhas sao frutos de decisoes pessoais e intransferiveis. Todas elas me trouxeram onde estou. Agora me encontro na fase final de uma jornada de bastantes lutas e sacrificios. So me entende quem estuda e trabalha tempo integral tambem. Conversando com um amigo arquiteto que tambem esta fazendo mestrado onde eu estudo (Boston Architectural Center), ouvi dele um comentario engracado. Ele me contou que quem vai para entrevistas de trabalho aqui e diz que estuda na BAC e’ inevitavel perceber do entrevistador uma certa atitude de admiracao. “People think we are bulldogs”. Eu nunca tinha ouvido essa expressao… Ele disse que sao pessoas que aguentam a pressao mais que outras, que nao medem sacrificios para conseguir o que querem. Eu amei: eu sou uma bulldog!

Na segunda cerveja, eu ainda escutei de meu amigo a pergunta: “voce as vezes nao tem a sensacao que pode qualquer coisa? Que algo dentro de voce diz que voce pode comecar o que for e ter sucesso?” Ooooo, perguntando logo a mim! Contei a ele brevemente de tudo que tive de deixar para tras quando vim para ca, de todos os sacrificios que fiz, de tantas barreiras que tive que ultrapassar, de ter que deixar minha familia e todos meus amigos para tras, etc. Ele se calou e disse que eu deveria ter muito orgulho de mim mesma. Eu tambem comentei que quando eu olho para tras as vezes ate eu me pergunto se faria novamente... E mais, quando respondo os varios e-mails por mes de pessoas interessadas em estudar ou trabalhar aqui eu fico me perguntando se a pessoa teria garra para tanto. Segurei depressao de muita gente, isso aqui nao e’ para todo mundo nao. Tive meus dias ruins... A vida boa fica no Brasil… A diferenca para mim e’ que eu tinha um objetivo muito claro do que eu queria para meu futuro. Eu nao me sentia perdida. Nada importava tanto. Nao era o diploma, era minha paixao por arquitetura que me fazia querer ser mais.

Para mim, a solidao foi uma das melhores coisas que me aconteceu… Rearfirmar meus principios, agir sempre tendo minha consciencia como guia e acreditar em mim mesma me fizeram muita mais forte do que eu era. Tive muitas tentacoes de distracao no caminho, mas nenhum momento me desviei do que eu queria e de onde eu deveria investir meu tempo e dinheiro: o mestrado em arquitetura. Quem me ve casada hoje pode ate pensar que foi o casamento que facilitou minha vida aqui. Tive ate que escutar de uma amiga que eu nao falava ha tempos: “Pois e’, voce teve sorte ai…” Noooosa como aquilo me incomodou. “Encontrei” meu marido depois que eu ja trabalhava como arquiteta no escritorio ha anos (ele trabalha no mesmo predio), ja estava com dois anos e meio de mestrado (sao 4 anos ao todo), com um ingles otimo e muito bem adaptada. A palavra “sorte”, sabendo de tudo que passei, e’ um pouco dificil de digerir… E eu nao estou nem contando as dores de amor dos relacionamentos que tive aqui antes de “acertar” na pessoa que escolhi. Enfim, tudo aquilo que eu tive controle direto na minha vida vem sido direcionado para esse grande momento que se aproxima: a defesa final de minha tese. Dai a confusao de sentimentos que anda acontecendo comigo atualmente…

Tenho percebido que coloquei expectativas tao altas para o final de meu curso que estao me dando ate vertigem… Alem disso, o velho e bom desejo de dar “orgulho” a meus pais e’ inegavel. Comentei isso com meu chefe e ele disse que era tudo besteira que ele apostava que eu era a melhor aluna da turma… Palavras generosas, escondi ate a lagrima. Queria dormir e acordar depois que tudo passou. Depois, escutar alguem me contar como foi…

Dizem que nossa vida muda completamente a cada 5 anos. Anos atras quando tudo era ainda sonho e incerto eu escrevi o que eu queria que minha vida fosse nos proximos cinco anos. Planos de travinsseiro, vontade de querer mais da vida. Hoje eu estou mais perto que nunca para completar o ultimo item da minha lista… O unico problema e’ que em meus sonhos tudo era tao perfeito que fica dificil aceitar algo que seja menos que isso…

Hoje estou eu acordando com “peso na consciencia” porque tudo que vem me acontecendo ultimamente, e que nao faz parte da conquista de meu objetivo, pode se virar contra mim num futuro breve… Mas como deixar a vida de lado se tudo e' vida? Filtra-la de momentos bons?
O verao e' fogo, faz as decisoes serem mais dificeis...
Hoje eu escolho a volta a disciplina. Que Deus me ajude... Amem!

2 Comments:

At August 23, 2005 2:13 PM, Anonymous Anonymous said...

Ai, que lendo seu blog me deu até arrepio. Sei na pele como é a vida dura no exterior, trabalhando e estudando. No meu caso, tive "sorte" mesmo: o mestrado na França só dura um ano. Depois, tive outras provações no exterior. Hoje, confesso: prefiro a vida boa do Brasil. Mas o que eu aprendi lá fora vou levar pra sempre. Com tanta dureza, acabei aprendendo a ser feliz. Pops.

 
At August 23, 2005 4:29 PM, Anonymous Anonymous said...

Lu, imagino mesmo a pressão e o stress nessa reta final! Tudo de bom pra você, vai dar tudo certo.

Abração,

 

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