Wednesday, April 27, 2005

Fora do Ar

Ok, confesso: o que fiz sexta a noite nao tem nada de segredo. Fomos assistir o filme “The Interpreter”, com Sean Penn and Nicole Kidman e dirigido por Sydney Pollack. Obedecemos uma regra que estabelecemos em nosso casamento: sexta a noite nao e’ permitido estudo, internet ou desempenharmos tarefas domesticas. E’ nossa noite para estarmos juntos, sem lembrarmos de obrigacoes e responsabilidades. O menu de vocabulario para noite inclui palavras do tipo “filme”, “restaurante”, “amigos”, “romance”, “relax” e “Bill Maher” (meu show preferido sobre politica as 11:00 da noite). Recentemente, aderi um significado a mais para noites de sexta. Desde que deixei de trabalhar as segundas, sexta a noite passou a ser meu “threshold”, palavra que arquitetos aqui utilizam para metaforicamente representar um espaco entre a passagem de um estado/lugar para outro. No Brasil e’ soleira mesmo.

Passado um longo semestre de aulas e dedicacao a escrever a proposta da tese, sao 38 semanas para desenvolver o projeto. Na decima semana resolvi me disciplinar e criei um horario de estudo detalhado para cada dia da semana; estou na decima quarta semana agora. No sabado, separei algumas horas da manha para ligar para as amigas, fazer laundry e cuidar da beleza (tb sou filha de Deus). Nao dessa vez. Do café fui direto para o computador. No telephone, no tv and no messenger whatsoever! Como viajei e nao pude encontrar minha orientadora segunda passada, senti a obrigacao de produzir o dobro para nosso proximo encontro.

Mergulhei no trabalho tres dias consecutivos. Num momento de fotografia mental, analisei a bagunca a meu redor. Minhas duas mesas de desenho e outra do computador organizadas em forma de “U” cobertas de desenhos, livros, revistas e papeis que nao sabia mais onde botar. No computador, paginas e paginas de web sites de pesquisa abertas, desenhos de AutoCAD e paineis de apresentacao no QuarkXpress. Vaguei entre leituras e projetos de Diller + Scoffidio, Carlos Scarpa, Peter Zumthor e Herzog and de Meuron. Faz parte do meu ritual tentar encarnar o espirito dos mestres antes de eu comecar meu processo de criacao. Criei tres conceitos para desenvolver o programa no meu terreno. Um utilizando o xadrez para criar uma anologia de um jogo mental empregado numa experiencia sensual, outro iniciado atraves de uma pintura que fiz demonstrando como atos intuitivos evoluem para uma analise racionalizada e, finalmente um que busca a harmonia do equilibrio de tres elementos: agua, vegetacao e o ambiente construido. Esse e’ um resumo da pagina que escrevi para cada proposta explicando como estas estao ligadas ao conceito de minha tese. Nao culpo quem entenda bulhufas, um dia eu exponho minha tese aqui e ai tudo vai ser esclarecido. Agora era partir para desenvolver as maquetes. Invadi a mesa do meu marido. Ele estaria fora o dia todo trabalhando numa competicao internacional para uma biblioteca com outros amigos arquitetos; eu excluida por minha absoluta falta de tempo. As 4:00 da tarde na segunda, ja de saida para encontrar minha orientadora, olhei o escritorio e tive vontade de chorar. Que zona!

Terca a noite minha turma se reuniu para apresentar e discutir nossos projetos com engenheiros eletricos, mecanicos e estruturais na aula de IBS (Integrative Building System). Serao 4 desses encontros no semestre. Tirei leite de pedra. Tive que improvisar e isso me deixa nervosa. Parece que tudo que tenho aprendido nas minhas aulas de Apresentacao Oral vai por agua abaixo nessas horas. Respirei fundo. No final, o alivio. Deu tudo certo. Terminei a discussao com mais perguntas que respostas. Para variar, ninguem me da respostas de nada, so fazem levantar mais questoes referentes a minhas propostas. As interrogacoes se multiplicaram na minha cabeca. Cheguei em casa as 11:15 da noite e exausta.

Hoje acordei com o peso na consciencia por ter me ausentado do mundo, como se devesse uma explicacao as pessoas. Que nada. Estive fora do ar e ninguem percebeu...

1 Comments:

At May 17, 2005 12:48 PM, Anonymous Anonymous said...

Gostei disso de mente inquieta....embora acredite que o fato de sermos mulheres já nos deixa com a mente prá lá de inquieta...hehehehe.
Sou arquiteta desde 1981 formada pela UnB de Brasília, adoro nossa profissão , desejo sucesso no teu final de curso e espero que o café tenha melhorado por essas bandas, quando eu morei em Dakota do Sul percorri todas as marcar a meu alcanze.....nada era igual ao nosso querido pretinho !

 

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