Apos digerir um elefante…

Eu, feliz da vida

Pergunta: Como se come um elefante?

(pausa para pensar)

Resposta: Com uma garfada de cada vez.

Alguns sonhos podem ser interpretados como um elefante: algo tao grande que parece impossivel poder ser digerido. Algumas garfadas sao mais dificeis que outras, mas com paciencia, otimismo e muito esforco a gente acaba conseguindo.

Apos 5 semestres de aula e aproximadamente 1 ano e meio de tese (1 semestre escrevendo a proposta + 2 semestres desenvolvendo o projeto + 2 meses documentando tudo em um livro), eu digeri mais um elefante na minha vida: recebi o diploma pelo meu mestrado em arquitetura. Esse foi grande mesmo. No meu primeiro ano aqui nos EUA, empenhei todas minhas energias e esforcos em juntar a grana e aperfeicoar meu ingles p/ ser aceita no mestrado. Como eu nao conhecia ninguem que tinha conseguido pagar um curso superior e ao mesmo tempo bancar os custos de vida aqui por conta propria, isso parecia impossivel para mim tambem. Mas nao e’ minha intencao repetir minha estoria aqui, so gosto de conta-la para incentivar outras pessoas que passam pelas mesma duvidas e ansiedades que eu passei no comeco de minha vida aqui nos EUA.

A efemeridade da vida me impressiona. Tudo passa. Tudo sao castelos de areia que construimos e o mar depois vem e destroi. O mar e’ o implacavel tempo. O que realmente importa hoje, amanha e’ memoria. Dai a necessidade de tudo que construimos em nossa vida ter uma forte fundacao, para assim termos a esperanca de que aquilo que erguemos ficara “de pe” pelo menos durante nosso breve periodo de vida nesse enorme e diversificado planeta. Tal fundacao tem que ser sempre baseada em valores duradouros e firmeza de carater. E’ assim que tenho tentado construir minha carreira, por isso hoje posso olhar para tras e me orgulhar de que venho tentando meu melhor. Contudo, confesso que a sensacao de culpa bate quando, na ansia de cuidar do que e’ urgente, tantas vezes nao cuidei do que me e’ essencial. Ao mesmo tempo que eu estava entretida tentando digerir meu elefante, tentei muito nao negligenciar outros aspectos da minha vida. O que ja era dificil durante o processo da tese, tornou-se impossivel particularmente nesse ultimos dois meses antes de minha formatura. Nao nego, o estresse tomou conta e eu me tornei uma versao pior de mim: tempo para familia, amigos, ir para o escritorio, meditacao, malhacao, blogar, ler, tv, etc, etc, tudo foi p/ o beleleu. Ainda estou tentando reorganizar meu mundo exterior e interior, comecando de dentro p/ fora. Vivo um tempo apropriado para reflexao e para colocar a “casa” em ordem.

Ainda nao me acostumei com a ideia do fim. Tudo isso ainda e’ muito novo para mim. Ainda acordo no meio da noite e tenho o impulso de rapassar mentalmente as coisas p/ fazer no dia seguinte. A constante sensacao de que nao ha tempo ainda me persegue. Eu tenho que me dizer: “it’s ok, it’s over now”. Acho que eu usei a palavra “sonho” para me referir ao "elefante' por causa dessa sua conotacao de ser algo fora da realidade. Daqui para frente usarei a palavra objetivo ou meta para dar a ideia de coisas concretas e mensuraveis, isto e’, algo mais realista. Talvez eu nao me acostumo com a ideia de fim porque eu vejo minha conquista como a possibilidade de novos comecos. Na realidade, e’ justamente por isso que em ingles as cerimonias de formatura se chamam “commencements”, por representarem o comeco de algo novo. Entao o meu momento presente e’ apenas uma transicao entre a conquista de um velho sonho e o planejamento de novos objetivos. Porque sem objetivos me guiando eu questiono minha propria existencia, entao estes precisam sempre ser renovados.

Ficam as fotos para mostrar um pouco dos momentos do coquetel e de minha formatura: http://www.flickr.com/photos/lubraga_triplett . Infelizmente as fotos nao revelam o que passou por dentro. Ter minha familia ao meu lado num momento tao significativo na minha vida foi de uma felicidade indescritivel. Porque no fundo tudo que a gente faz e’ para dar orgulho aqueles que amamos.

E assim encerro mais um capitulo de minha vida.